Ante o Divino Mestre
Senhor Jesus!
Grandes reformadores da vida religiosa passaram no mundo antes de ti.
Sacerdotes chineses e hindus, persas e egípcios, gregos e judeus referiram-se à Lei, traçando diferentes caminhos às cogitações humanas.
Um dos maiores de todos, Moisés, viveu entre príncipes da Ciência, fez-se condutor de multidões, plasmou sagrados princípios de justiça e, após sofrer as vicissitudes de sua época, expirou no monte Nebo, contemplando a gleba farta que prometera ao seu povo.
Outro Senhor, o grande Siddharta, converte-se em arrimo dos penitentes da Terra, ensinando a compaixão, depois de renunciar, ele próprio, o Bem- -aventurado, às alegrias do seu palácio, para morrer, em seguida a sublimes testemunhos de simplicidade e de amor, entre flores de Kuçinagara…
Todos eles passaram, induzindo os homens à solidariedade e ao dever, exalçando o coração e purificando a inteligência.
Profetas hebreus numerosos antecederam-te os passos, esboçando o roteiro da luz…
Alguns deles encontraram o escárnio e as flagelações em lutas enormes, confinadas, porém, ao âmbito particular do povo a que serviam.
Nenhum, no entanto, acendeu tantos conflitos com o mandato de que se faziam intérpretes, quando confrontados contigo, a quem se negou um lar para nascer.
Por onde passaste extremavam-se as paixões.
Contrapondo-se ao carinho que te consagravam as almas simples de Cafarnaum, recebeste o ódio gratuito dos Espíritos calculistas de Jerusalém.
Em tua estrada, aglutinaram-se a fraqueza e a ingratidão, a crueldade e a secura, tecendo a rede de trevas na qual te conduziram à cruz entre malfeitores.
Em oposição à tranquilidade silenciosa que se estendeu sobre a morte dos grandes enviados do Céu que te precederam, de teu túmulo aberto ergueu-se a mensagem da eternidade, gritante e magnífica, pela qual os teus seguidores experimentaram a perseguição e o sacrifício, em trezentos anos de sangue e lágrimas nos cárceres de martírio ou na humilhação dos espetáculos públicos…
É que não apenas ensinaste a bondade, praticando-a impecavelmente, mas revelaste os segredos da morte.
Conversaste com as almas desencarnadas padecentes, pelos enfermos que te procuravam, transfiguraste as próprias energias no cimo do Tabor, dando ensejo a que se materializassem, diante dos discípulos extáticos, Espíritos gloriosos de tua equipe celeste.
Reabriste os olhos cadaverizados do filho da viúva de Naim e trouxeste de novo à existência o Espírito Lázaro, que se achava distanciado do corpo inerte, encarecendo e exaltando a responsabilidade da criatura, que receberá sempre de acordo com as próprias obras.
Agarrados à posse efêmera da estação terrestre, os homens não te perdoaram a Revelação inesquecível e te condenaram à morte, buscando sufocar-te a palavra, olvidando que a tua doutrina, marcada de amor e perdão, já se havia incorporado para sempre aos ouvidos da Humanidade. E, retomando-lhes o convívio, ressuscitado em tua forma sublime, mais lhes aumentaste o espanto da consciência entenebrecida.
Desde então, Senhor, acirrou-se a antinomia entre a Luz e a treva…
Os teus apóstolos exibiam fenômenos mediúnicos maravilhosos, arrebatando a admiração e o respeito da turba que os cercava, mas bastou que no dia do Pentecostes transmitissem os ensinamentos dos desencarnados, em diversas línguas, para que fossem categorizados por ébrios que o vinho fazia desvairar. Enquanto Paulo de Tarso, inspirado se detinha na Acrópole sobre os grandes temas do destino, conquistava a atenção dos atenienses ilustres, mas bastou que aludisse à ressurreição dos mortos para que fosse abandonado por todos eles à zombaria e à solidão.
E ainda hoje, Mestre, anotamos por toda parte o terror da responsabilidade de viver.
Quase todos os homens aceitam o apoio da religião, sempre que se lhes lisonjeie a inferioridade e se lhes endossem os caprichos no culto externo, prestigiando as autoridades de superfície que lhes desaconselhem pensar.
Acreditam comprar o Céu a preço de oferendas materiais ou de atitudes estudadas na convenção e imaginam que esse ou aquele inimigo está reservado aos tormentos do inferno. Entretanto, se alguém lhes recorda a realidade, mostrando a morte como prosseguimento da vida, com a exação da Lei que confere a cada criatura o salário correspondente aos próprios atos, azeda-se-lhes o fervor, passando a abominar quantos lhes sacodem a mente entorpecida. E agora, como antigamente, associam rebelião e vaidade para asfixiar o verbo revelador onde surja. Improvisam tentações e pavores ao redor daqueles que se dedicam à Verdade, e, se esses lhes não caem nas armadilhas e se lhes não temem as ameaças, empreendem campanhas lamentáveis, em que a difamação e o ridículo funcionam por golilhas atrozes nas gargantas que desferem a palavra divina do teu Evangelho Libertador.
Aos espíritas, Senhor, que te exumam as lições do acervo de cinzas do tempo, cabe agora o privilégio de semelhantes assaltos. Porque se reportam à responsabilidade da criatura, no campo da vida eterna, e porque demonstram que a sepultura é portal da imortalidade, são conduzidos ao pelourinho da execração, caluniados e escarnecidos.
Como se lhes não possa interromper a existência, a fio de espada, emudecendo-se-lhes a Mensagem de luz, pisa-se-lhes o coração na praça pública com as varas da mentira e do sarcasmo, para que o desânimo e o sofrimento lhes apressem o fim.
Mas sabemos que tu, Senhor, és hoje, como ontem, o Herói do Túmulo Vazio…
Aqueles que te colocaram suspenso na cruz, por te negarem residência na Terra, não sabiam que alçavam mais alto a visão para que lhes observasses os movimentos na sombra.
Mestre Redivivo, que ainda agora enches de terrível assombro quantos estimariam que não tivesses vivido entre os homens, fixa teu complacente olhar sobre nós e aparta-nos da treva de todos os que se acomodam com a saliva da injúria! E revigora-nos a consolação e a esperança, porque sabemos Senhor, que, como outrora, entre os discípulos assustados, estarás com os teus aprendizes fiéis, em todo instante de angústia, exclamando, imperturbável:
– Tende bom ânimo! Eu estou aqui.
1 N.R.: XAVIER, Francisco C. Antologia mediúnica do natal. Espíritos diversos. 7. ed. 1. imp. Brasília: FEB, 2017. cap. 25.
Revista O Reformador - Novembro de 2018.
Perdão, expressão de amor
O amor é fonte inesgotável; quanto mais se doa mais cresce, se expande e beneficia. É a expressão do sentimento mais puro que a criatura pode desenvolver.
Quem ama, desculpa, tem compaixão, perdoa, não faz exigências, simplesmente doa, esquecendo-se de si mesmo em benefício do próximo.
O maior exemplo de amor que a Humanidade conhece é Jesus, Modelo e Guia, que, diante do questionamento de Pedro: “Senhor, perdoarei a meu irmão todas as vezes que pecar contra mim? Fá-lo-ei até sete vezes?, deixou-nos o inolvidável ensinamento: “Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes.” (Mateus, 18:21 e 22). Naquele instante, ensinou; mais tarde, no momento extremo da cruz, testemunhou: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.” (Lucas, 23:34).
O amor de Jesus é para todos, indistintamente. O Cristo doou-se em plenitude, exemplificou o amor incondicional, respeitou a ignorância dos contemporâneos e não violentou a consciência de nenhum deles, ainda saturada de sombras e equívocos; em vez disso, legou à Humanidade o seu testemunho inquestionável.
O Espírito imortal necessita viver em sociedade, porque esta é lei natural, divina, necessária ao seu progresso, crescimento e prática da Lei Maior: “Amar ao próximo como a si mesmo.” (Mateus, 22:39), ou seja, aceitar o outro como ele é, e não como desejamos que ele seja; ter boa vontade para com todos, porque é de nosso gosto que todos tenham igual boa vontade para conosco; ser indulgente, porque necessitamos de indulgência; desculpar, porque desejamos ser desculpados; ter compaixão, porque também precisamos de compaixão; perdoar, porque queremos ser perdoados.
No entanto, as imperfeições dificultam que ajamos assim, por conta de hábitos milenares arraigados que necessitam ser substituídos por valores perenes, por hábitos novos, nesse processo educativo que a reencarnação concede por amor do Pai.
Seja no lar, no trabalho, na via pública, na casa de oração, onde estivermos o convite é para nos amarmos, indistintamente, mesmo aos que se dizem ou que consideramos nossos inimigos.
Inimigos, certamente, todos teremos ou não, por razões que fogem ao julgamento. Contudo, que a inimizade não se origine naquele que deseja amar conforme o apelo do Mandamento Maior.
É na vida em sociedade que temos a oportunidade de reconciliação, de conviver com os desafetos de ontem ou de agora, de aprender a amar e perdoar, porque só o perdão, reflexo do verdadeiro amor, é capaz de conduzir a criatura à libertação das amarras que a imobilizavam nas faixas inferiores da animalidade.
Revista O Reformador - Edição Novembro de 2017
Federação Espírita Brasileira
Os braços do Cristo
Perguntam-me por que não há no Centro Espírita ritos e rezas, ofícios e oficiantes, imagens e estampas que caracterizam o culto religioso nos templos e igrejas.
Ocorre que a proposta do Espiritismo é diferente.
O Centro Espírita é, sobretudo, a escola de Espiritualidade, onde aprendemos que o culto a Deus é assunto eminentemente pessoal, entre nós e o Criador.
Elegendo intermediários estaremos transferindo para outrem o que nos compete.
Se os noivos desejam as bênçãos divinas para seu casamento, ninguém melhor que eles próprios para fazê-lo. Reúnam- se em círculo íntimo de familiares e amigos e evoquem as bênçãos do Céu. Falem das suas aspirações na vida a dois, do amor que os une, da proposta de um lar enriquecido por filhos, sustentado por valores legítimos de carinho, respeito, compreensão, fidelidade, dedicação ao bem…
Ao nascer o filho, ninguém melhor para evocar as bênçãos divinas do que os pais, na intimidade do lar, agradecendo a Deus pelo Espírito que lhes foi confiado, propondo-se a orientá-lo nos caminhos da vida, com carinho e a força do exemplo.
Se falece o familiar, ninguém melhor do que seus entes queridos para elevar o pensamento a Deus, buscando serenidade para eles e amparo para o companheiro que retornou à Pátria Espiritual.
Quando terceirizamos essas ações, transferindo-as para alguém ou algum ritual, perde-se em grande parte a emoção que dá significado e intensidade ao culto religioso e favorece a comunhão legítima.
Certamente, quando nos dirigimos a Jesus, em oração, não iremos nem conseguiremos, fazer branco na tela mental. Podemos, intimamente, formar um cenário.
Por exemplo: situemo-nos à beira de um lago de águas tranquilas, em pleno crepúsculo, estrelas brilhando no lampadário celeste, brisa suave…
Imaginemos Jesus a aproximar-se.
A maneira como iremos visualizá-lo na tela mental há de variar de acordo com nossa concepção, nossa maneira de ser.
Se você me permite, caro leitor, sugiro postura semelhante ao que ocorre na Igreja Santo Egídio, em Roma, onde há uma comunidade de pessoas dispostas a trabalhar com Jesus.
Dedicam suas vidas ao esforço em favor dos carentes.
Nela há extraordinária imagem do Cristo.
Um Cristo diferente…
Um Cristo sem braços!
Simbolismo perfeito.
Significa que Jesus confia em nós para realizar sua obra de redenção da Humanidade.
Imperioso sejamos os braços e as mãos de Jesus.
O Mestre é a luz que ilumina o mundo. Compete-nos conduzir o luzeiro celeste aos carentes, trabalhando no campo da solidariedade.
Sem os cristãos de boa vontade, dispostos a arregaçar as mangas, para servir em nome do Cristo, como seus braços e mãos em ação, jamais o Evangelho se estenderá sobre o mundo. Por isso Jesus dizia que a Seara é grande e os trabalhadores são poucos.
Quando estivermos distraídos das finalidades da existência humana, mergulhados no imediatismo terrestre, um marca-passo na jornada evolutiva, detenhamo-nos por instantes.
Coloquemos em nossa tela mental a figura do Cristo sem braços, esperando por nós, e haveremos de vencer a comprometedora inércia para fazermos das nossas as mãos do Mestre, a distribuir bênçãos ao redor de nossos passos.
Servir em nome de Jesus será sempre a postura ideal, o melhor culto, a melhor reverência para a comunhão autêntica com a Espiritualidade, em condições ideais para recebermos as bênçãos de Deus.
Revista O Reformador - Edição Novembro de 2017
Federação Espírita Brasileira
Eu sou o que escolho me tornar
Se você quer algo novo, você precisa parar de fazer algo velho.
Peter Drucker
As crenças, num sentido geral, representam uma das estruturas mais importantes do comportamento. Quando realmente acreditamos em algo, nos comportamos de acordo com essa crença.
Temos crenças sobre outras pessoas, sobre nós mesmos e sobre nossos relacionamentos, sobre o que é possível e sobre aquilo que somos capazes de fazer. São as regras pelas quais vivemos. São os nossos princípios de conduta. Agimos como se fossem verdade e, se gostamos dos resultados, continuamos a agir como se fossem verdade. Se não trazem bom resultado, mudamos. Ou seja, numa visão mais ampla, temos escolha quanto aquilo em que acreditamos.
A repetição dos atos comportamentais, mentais, gera hábitos e esses tornam-se memórias, que passam a funcionar automaticamente. Essas memórias são o nosso já sabido. Exemplo: guardamos sistematicamente a chave do carro em determinado lugar. Quando precisamos dela, de modo automático vamos ao local sabido por nós. Se, eventualmente, a deixamos em outro lugar, e precisarmos dela, voltamos a procurá-la no lugar já sabido, por automatismo. Não estando lá, surge a sofrência de pensar e pensar e pensar onde a teríamos deixado.
Como sempre, bem ensina a Benfeitora Espiritual Joanna de Ângelis[1] a respeito dos hábitos: São eles que passam a dirigir a sua conduta, porque toda a programação existencial começa no pensamento.
É de alta relevância considerar essa questão, porquanto no pensamento estão as ordens do que se deve realizar e como proceder à sua execução. Deixando-se conduzir pelas manifestações primitivas, habituais, repetem-se, sem resultados positivos, os labores que mantêm o ser no estágio em que se encontra, sem o valor moral para alcançar novos patamares do processo da evolução. [Grifamos]
Desde que no pensamento está a diretriz da conduta, pensar corretamente deve constituir o grande desafio de quem almeja o triunfo.
Nesse raciocínio, citamos frase atribuída a Albert Einstein: Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes.
Pensar e agir são termos da mesma equação existencial.
Com o passar do tempo, todos mudamos parte ou o todo de uma certa crença, mesmo sem nos apercebermos disso. Outras vezes o fazemos de modo intencional, ou ainda, obrigados pelas circunstâncias. Por exemplo, fazíamos uso regular de certo tipo de alimento, por acreditar que nos fazia bem. Em face de um diagnóstico médico, vem a prescrição de o abolirmos definitivamente, pois está nos prejudicando. E lá se foi uma crença.
Mudamos nossa crença e teremos mudado o comportamento correspondente. Porém, o comportamento naturalmente vivenciado decorre daquela crença na qual acreditamos de fato.
Mesmo desejando mudança, a princípio, a acomodação nos levará a nos repetirmos. A insistência e perseverança é que abrirão novo espaço no campo mental viciado, plantando as sementes novas. E novo hábito se irá implantando lentamente no subconsciente até tornar-se parte integrante do comportamento novo.
Leciona Joanna de Ângelis2: O indivíduo está sempre no momento presente, que é o seu instante decisório. O passado, por isso mesmo, não pode servir de parâmetro, senão aprender como não repetir os erros, pois que é irrecuperável, no entanto, reparável.
Se sonhamos com um Novo Ano, realmente novo, precisamos fazer por donde o homem velho dê lugar a um novo homem, renovado em seus pensamentos e atos.
Sabemos que é possível e necessário mudar, pois mudança é a única constante da vida.
Mude seus pensamentos e você muda seu mundo, diz-nos Norman Vicent Peale.
Não podemos prever o futuro, mas podemos criá-lo, a partir do nosso presente. Só no momento presente temos domínio da situação e recursos para isso.
Isso é uma constante entre os pensadores:
Não há nada como o sonho para criar o futuro. Utopia hoje, carne e osso amanhã. - Victor Hugo.
O futuro dependerá daquilo que fazemos no presente. – Mahatma Gandhi.
O futuro é como o papel em branco em que podemos escrever e desenhar o que queremos. – Marquês de Maricá.
Hoje, neste tempo que é nosso, o futuro está sendo plantado. As escolhas que procuramos, os amigos que cultivamos, as leituras que fazemos, as crenças que firmamos, os valores que abraçamos, os amores que amamos, tudo será determinante para a colheita futura.
Este é nosso instante, e o instante é a continuidade do tempo, pois une o tempo passado ao tempo futuro, segundo Aristóteles.
Bastam pequenas mudanças para pequenas renovações.
A maior descoberta de minha geração, dizia William James, é que o ser humano pode alterar a sua vida mudando sua atitude mental.
Sonhemos sim, com um Novo Ano repleto de bênçãos e triunfos, que nos traga paz e saúde.
Mas precisamos fazer a nossa parte, fundamental no processo.
Aprendamos com Carl Gustav Jung: Eu não sou o que me acontece, eu sou o que escolho me tornar.
Velhos hábitos arraigados, pensamentos viciosos, vontade enfraquecida, atavismos perniciosos, ressentimentos conservados, conspirarão contra o programa de vida renovada.
Comecemos o nosso programa de construção de um Novo Ano, renovando as nossas velhas crenças. Mudemos os nossos pensamentos e raciocínios, direcionando-os para o êxito, em que devemos acreditar fortemente, e, empenhando-nos, conseguiremos.
Podemos ter um futuro melhorado.
E vencer a preguiça é a primeira coisa que o homem deve procurar, se quiser ser dono do seu destino, recomenda Thomas Atkinson.
Não podemos aguardar que os tempos se modifiquem e junto nos modifiquemos, por uma revolução silenciosa que chegue sem que a esperemos e nos leve em sua marcha, sem que sejamos agentes dela. Nós mesmos somos o futuro. Nós somos a revolução.
[1] FRANCO, Divaldo Pereira. Vida: desafios e soluções. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador: LEAL, 1997. cap. 4, item Hábitos mentais.
2 Op. cit. cap.4, item Frustrações e dependências.
Jornal Mundo Espírita - jan/2017 - Fed. Esp. Paraná
ALLAN KARDEC
RESGATANDO O TESOURO DA BOA NOVA
O tcheco Jan Huss, concorde com as ideias de John Wycliffe, no final do século XIV e começo do XV, se firmou como um dos precursores da Reforma Protestante que se deu no século XVI, liderada por Martinho Lutero.
Esse movimento reformista desejava uma religião liberta de certos excessos e que retomasse a pureza e simplicidade de suas bases, em identidade com a mensagem da Boa Nova, apresentada e vivida por Jesus.
Que a religião fosse o elo entre o coração do homem e Deus, por provocar efetivas reformas morais em cada um.
Com esse objetivo, Huss celebrava missas e proferia seus sermões em tcheco, quando deveriam ser somente em latim.
Também foi grande estimulador da vida em comunidade, o que se contrapunha ao feudalismo de então e algumas posturas da religião dominante. Seus ideais eram de uma sociedade justa e com igualdade.
A ideia prosperou entre grupos dos hussitas, que se reuniram em comunidades, e ficaram conhecidos como taboritas. Em defesa de suas ideias foi aos extremos do sacrifício.
Foi queimado vivo em 6 de julho de 1415. Porém, suas atividades de pregador e sua condenação foram elementos decisivos que deram grande força à Reforma Protestante em sua terra natal, a Boêmia.
Suas ideias não morreram com ele. Prosseguiram, qual fermento levedando a massa, no que se chamou depois de Revolução Hussita.
No entanto, a grande reforma pretendida pelo Senhor da Vida para a Humanidade, que começou num tempo não sabido, ainda não estava concluída. Na admirável lei de harmonia que rege a vida e os mundos, tudo se encadeia no Universo, num compasso contínuo e persistente.
Em 1804, no dia 3 de outubro, em Lyon, França, nasceu Hippolyte Léon Denizard Rivail. Era Jan Huss que voltava para dar continuidade ao seu trabalho renovador.
A saga de Rivail o conduz ao Continente do Espírito, levando-o a desbravá-lo com mestria, resgatando o tesouro da Boa Nova, que vem infielmente guardado em baús de práticas exteriores e outros atavismos ancestrais, velando, para os olhos do povo, a sua verdadeira riqueza transcendental e utilidade existencial.
A restauração dos ensinos de Jesus, em sua singeleza e originalidade, precisava e precisa continuar sendo realizada.
Em nova etapa, a exposição do tesouro em resgate começou com a publicação de O livro dos Espíritos, em 18 de abril de 1857. Repetindo as experiências de seu tempo como Jan Huss, publicou livro de filosofia espiritualista em francês, sua língua mãe (tratados de filosofia somente eram publicados em latim).
Ousou mais ainda: o apresentou em forma de perguntas e respostas, para facilitar a leitura e o entendimento do seu conteúdo (e não na exaustiva forma de longos tratados, como de praxe). Depois de editar O livro dos médiuns (15.1.1861), trouxe a lume O Evangelho segundo o Espiritismo, em abril de 1864.
Na sequência, O céu e o inferno (1º.8.1865) e A gênese (6.1.1868). O Evangelho segundo o Espiritismo configura um marco na retomada da busca pela religião efetivamente estimuladora do reencontro com Deus no coração dos homens.
Assim comentou Allan Kardec : O Espiritismo é uma doutrina filosófica de efeitos religiosos, como qualquer filosofia espiritualista, pelo que forçosamente vai ter às bases fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma e a vida futura.
Mas, não é uma religião constituída, visto que não tem culto, nem rito, nem templos e que, entre seus adeptos, nenhum tomou, nem recebeu o título de sacerdote ou de sumo-sacerdote.
E acrescentou : O Espiritismo é chamado a desempenhar imenso papel na Terra. (...) restaurará a religião do Cristo(...); instituirá a verdadeira religião, a religião natural, a que parte do coração e vai diretamente a Deus (...) Kardec tinha ciência desse essencial aspecto de sua missão, desde 30 de abril de 1856, quando os Espíritos Luminares lhe disseram:
Deixará de haver religião e uma se fará necessária, mas verdadeira, grande, bela e digna do Criador... Seus primeiros alicerces já foram colocados... Quanto a ti, Rivail, a tua missão é aí.
E ele bem cumpriu sua missão. Trouxe para sob o Sol do meio-dia a Doutrina Espírita.
Observemos ainda com Kardec a persistência de outra ideia predominante em Jan Huss – a vida em comunidade, por ser o modelo que alcançaremos um dia para a nossa sociedade : A comunidade é a abnegação mais completa da personalidade; ela requer o devotamento mais absoluto.
Ora, o móvel da abnegação e do devotamento é a caridade, isto é, o amor ao próximo. (...) Mas a fraternidade, assim como a caridade, não se impõe nem se decreta; é preciso que esteja no coração (...) Segue demonstrando que a vida em comunidade – parâmetro de um mundo melhor – depende de materiais sólidos em sua construção: Para tanto, os materiais sólidos são os homens de coração, de devotamento e abnegação. (...)
Estabeleceu que Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade. E a dualidade fé-razão, que contempla conhecimento, entendimento, compreensão e adoção, é a religiosidade da consciência, a qual não se baseia nessa ou naquela religião em particular, mas em comportamento congruente entre o que se sabe, no que se crê e o que se faz, por conseguinte.
A esse Apóstolo dos tempos modernos – Allan Kardec, cuja lida em nome do Cristo atravessa os portais do tempo em múltiplas existências, homenageamos com rápidos registros de sua saga, a qual nos legou os pilares de uma Nova Era. Ele desencarnou no dia 31 de março de 1869, em Paris, França.
Entretanto, suas ideias, tanto quanto as de Jan Huss, permanecem, como revolução silenciosa no seio da sociedade mundial, mantida pelo Movimento Espírita.
.
1 . KARDEC, Allan. Obras Póstumas. Rio de Janeiro: FEB, 2006. pt.1, cap. Ligeira resposta aos detratores do Espiritismo. 2 . Op.cit. pt. 2, cap. Futuro do Espiritismo. 3 . Op. cit. pt. 2, cap. Primeira revelação da minha missão. 4 . ______. Viagem espírita em 1862. Rio de Janeiro: FEB, 2005. cap. Discursos pronunciados nas reuniões gerais dos espíritas de Lyon e Bordeaux.
TRAGÉDIAS COLETIVAS
ACASO, DESTINO OU
LIVRE-ARBÍTRIO?
Após uma tragédia coletiva como o acidente da GOL em 2006; o acidente da TAM em 2007, ou o acidente LaMia-CP2933 em 2016, no qual viajava a equipe Chapecoense, é comum ouvirmos comentários de pessoas ligadas ao meio espírita procurando dar uma explicação que conforte as pessoas que perderam seus entes queridos.
A maioria das explicações que temos ouvido e lido no meio espírita se direcionam para as idéias mais trabalhadas pelas pessoas que buscam conforto e esperança. Uma é o acaso e a outra é o destino.
A palavra acaso vem do latim acasus, que significa sem causa. Como não há efeito sem causa, esta opção já pode ser excluída. Dependendo da ideia de destino que o leitor faça, pode ficar a sensação de que era para ser assim, portanto o trágico fim seria inevitável. Tanto a crença no acaso como a crença no destino, diminuem a importância de se investigar e corrigir as causas, para evitar que tragédias semelhantes se repitam.
Se aceitarmos que se trata de destino, isto significa que a situação está sob controle de uma força superior, o que equivale a negar o livre-arbítrio. Tal idéia parece aceitável quando analisamos fenômenos naturais, como terremotos, tsunamis, furacões e inundações. Mesmo assim, depois da primeira surpresa, passamos a ter a opção de fazer algo a respeito para minimizar os danos decorrentes de catástrofes naturais previsíveis. Um exemplo disso está nos efeitos de alguns terremotos no Japão. É admirável notar que fortes tremores de terra causem poucos danos em algumas áreas do Japão, ao passo que tremores similares, causem enorme destruição e um enorme número de mortos em outros países. Os japoneses não têm controle sobre os terremotos, mas constroem seus novos prédios de modo a resistir a eles com o menor dano possível.
Se aceitarmos que um acidente, se trata de acaso, isto significa que a situação não está nem sob o controle humano e nem sob o controle de uma força superior; ou seja, se os fatores negativos coincidirem, o acidente se tornará inevitável. Estaríamos então nas mãos da sorte. Uma espécie de loteria da vida, onde se não chover, tudo dará certo.
Ambas as linhas de pensamento nos encaminham para um perigoso conformismo capaz de gerar uma repetição infindável de acidentes com perdas de vidas.
Precisamos pensar mais profundamente sobre o assunto, e tentar construir uma resposta que sobreviva ao teste da lógica e seja coerente com o que sabemos dos princípios doutrinários do Espiritismo. Entre eles destacamos o princípio do livre arbítrio. Este princípio não significa que temos controle de tudo, mas que somos responsáveis sobre os desdobramentos daquilo que está sob o nosso controle. O Espiritismo entende que livre-arbítrio é o espírito agindo no limite do seu conhecimento e sendo responsável na medida do seu entendimento.
As unidades culturais espíritas, apoiadas no estudo transdisciplinar da Filosofia, Ciência e Religião, trabalham no desenvolvimento da capacidade pensante dos seus estudiosos encarnados e desencarnados. Assim sendo, como espíritas, temos a responsabilidade de questionar, construir evidências e propor referenciais que contribuam para a mudança nos padrões morais e administrativos das organizações humanas. Afinal, em muitas situações, transferimos a estas organizações a responsabilidade pelo nosso bem-estar e segurança. Ao confiarmos nossas vidas à manutenção de uma empresa aérea; ao comando da Aeronáutica ou às decisões de uma agência reguladora, estamos renunciando a uma parte do nosso livre arbítrio e passando o controle àqueles que comandam o sistema aéreo.
Quando rejeitamos a idéia de destino ou acaso, nos obrigamos a propor uma terceira alternativa que explique racionalmente o que aconteceu. Esta terceira explicação aparece quando relacionamos as variáveis que contribuíram para a ocorrência do acidente. Uma vez listada, a somatória de variáveis causais, indicam que o acidente poderia ter sido evitado. Para tanto, bastava que cada um cumprisse o seu dever. Cumprir o dever pode significar estar mais atento às condições de sucesso de qualquer ação. Pode ser uma viagem de ônibus, um pouso, uma cirurgia, uma operação que pode levar uma empresa à falência, uma alimentação que pode fazer muito mal, dirigir um automóvel, etc.
Será que o acidente da TAM teria ocorrido se a proibição de pousar apenas com um reverso em dias de chuva, aplicada ao avião presidencial, fosse também aplicada aos vôos comerciais? Ou se tivesse sido proibido o pouso de aviões de grande porte em um aeroporto tão pequeno e sem pista de escape? Se a derrapagem do vôo da Pantanal, no dia anterior e os alertas dos pilotos que apelidaram a pista de “esqui no gelo” fosse levada a sério pelas autoridades do Aeroporto, da Aeronáutica ou da agência reguladora, o acidente teria ocorrido? Ou se a agência reguladora não tivesse enviado o documento que sensibilizou a juíza que fechou o aeroporto, forçando-a a liberar a pista recém reformada?
Será que as pessoas que deveriam ter assumido uma posição radical como fez a corajosa juíza, não deixaram para alguém decidir, ou confiaram no acaso ou no destino?
Quando se somaram as variáveis com potencial de gerar acidentes como: avião de grande porte pousando em pista de 1940 metros sem escape, comparado com pistas de até 4000 metros; chuva na pista; pista nova com ausência de canaletas para escoamento da água; limitações no reverso, o qual era extremamente importante em situações de chuva na pista, percebemos que o acidente da TAM se tornou impossível de evitar. Assim sendo, mesmo sem um profundo conhecimento técnico, é possível a qualquer pessoa que o analisa, compreender que aquele acidente ocorreu porque todas as pessoas diretamente envolvidas, permitiram que a somatória de variáveis causais ultrapassasse os limites de segurança de pouso.
Sem uma melhor compreensão do livre arbítrio e das nossas conseqüentes responsabilidades, continuaremos prisioneiros de mitos e crenças que tem o potencial de contribuir para gerar novas tragédias. Como espíritos, todos sabemos de antemão que iremos desencarnar um dia. Felizmente, ninguém sabe quando e nem como, pois o futuro depende de inúmeras variáveis e do uso que fazemos da nossa liberdade.
Administrar a nossa vida e os fatores que afetam a vida de outros com coerência, é responsabilidade de cada um; assim como, administrar recursos financeiros e técnicos, que impliquem em risco de interrupção da vida encarnada de muitos é responsabilidade de poucos. Por isso, seria desejável que estas poucas pessoas passassem a ter acesso a um melhor entendimento do sentido e do significado da vida; para que não sejamos surpreendidos por novos acidentes que possam interromper nossos projetos de vida antes do esgotamento natural do nosso capital de vida.
Depois que decola, o destino de um avião é o solo, quer seja por meio de um pouso normal, de um pouso forçado ou de uma queda fatal. Só devemos lembrar que, antes do pouso, houve a livre escolha do passageiro de aceitar o risco da viagem e a decisão soberana do piloto de autorizar a decolagem.
Quando as variáveis causais estiverem sob o controle humano, não há porque acreditar que somos vítimas do destino ou do acaso. Assim sendo, precisamos assumir que somos responsáveis pelas variáveis que estão sob nosso controle e cumprir com nosso dever sob pena de assumir sérios débitos morais perante nossa consciência e, portanto, perante as leis naturais.
Paulo Henrique Wedderhoff
Revista Ser Espírita - Dezembro de 2016.
Obsessores...
quem são eles?
“Recorda teus perseguidores com piedade consoladora, laborando em benefício deles com o perdão. Evoca-os em tuas orações intercessórias, que os alcançarão em forma de lenitivo e esperança. Ajuda-os, por tua vez, como ontem te auxiliaram outros corações dos quais não recordas.” (Joanna de Ângelis)
Lembremo-nos de quanto carinho devemos ter por nossos obsessores. Esquecemos quanta dor levam no peito e que não são somente ódio, pois eles têm, como todos nós, um lado humano, embora empedernido pelo desejo de vingança.
Imaginemos quanto amor alguém tem por eles. Uma mãe, um pai, um filho, irmãos, amigos... Um sentimento de piedade nosso pode lenir a alma desesperada daqueles que nos odeiam. Esse é o amor que é possível sentir pelos obsessores, mesmo que estejamos ainda muito aquém da reconciliação.
De ordinário, os obsessores são também obsidiados. Mentes vigorosas os mantêm cativos de uma influência vampirizadora, em troca de supervisão e apoio de outros obsessores que se associam a eles. Não é preciso dizer que são irmãos extremante infelizes e que os mais perigosos escondem um vazio no coração que espera o lenitivo que anseiam. Eles necessitam dos obsidiados para colher energias que os sustentem.
Entendemos que Jesus espera de nós que amemos nossos inimigos com um amor terno, com afeição e carinho.
“É natural que tenhamos adversários, mas não inimigos.” (André Luiz)
Existem adversários que se estimam mutuamente, ou que ao menos se respeitam sem nenhum tipo de animosidade. Transformar um inimigo em adversário é um primeiro passo rumo ao perdão, desde que nós já tenhamos perdoado.
O perdão significa libertação de grilhões de ódio. Mas, se nós perdoamos e nosso adversário não, espera-se que o vínculo obsessivo se desfaça naturalmente, a não ser que a provação deva continuar.
“É com brandura que se deve corrigir os adversários, na esperança de que Deus lhes conceda o arrependimento para conhecerem a verdade e voltarem ao bom senso, livrando-se das armadilhas do diabo, a cuja vontade estão sujeitos.” (2 Timóteo 2:25-26)
Muitas vezes nossos obsessores foram nossos comparsas que agora enxergam traição no fato de deixá-los para seguirmos Jesus. Voltam-se com ódio para nós e investem contra nós, atingindo-nos em nossos pontos vulneráveis e nos mais caros interesses, pois foram nossos amigos e conhecem-nos muito bem. Seu desejo é atormentar-nos para ver até que ponto permaneceremos fiéis a Jesus, embora reconheçam que mudamos de alguma sorte, mesmo que pouco. Mas eles são ainda suscetíveis de retomar, no futuro, a antiga amizade.
Enxergar amigos em nossos obsessores é a chave que abre as amarras da obsessão.
Reconhecer que a prova da obsessão é um mecanismo de redenção muda toda a nossa perspectiva acerca dos papéis que interpretamos nesse intrincado labirinto de animosidade, em que encontramos a possibilidade de conviver intimamente com nossos inimigos, estimando-os não como inimigos, mas como bons adversários.
Entender a dor como mola propulsora do ódio deve fazer com que trabalhemos não tanto pela libertação, mas para a reconciliação entre dois amigos que sofrem. Lembremos que, muitas vezes, não podemos fazer o bem diretamente aos nossos obsessores porque eles se opõem a isso, devido ao abismo que separa obsessor e obsidiado. Descobrimos, então, o valor do silêncio e da oração, que ofertarão lenitivo e esperança a um coração que sofre, porque em processos como esses ninguém é feliz e todos sofrem.
Fonte:
Revista O Consolador
Ano 10 - N° 485 - 2 de Outubro de 2016
O QUE BUSCAMOS COM A PRECE?
Por Claudia Guadagnin
Numa tarde, Chico Xavier voltava a pé e sozinho da Fazenda Modelo, onde trabalhou durante o tempo em que viveu em Pedro Leopoldo (MG). De repente, ele parou no meio da estrada de terra e se jogou no chão, de joelhos, com as mãos entrelaçadas em prece. Naquela época ele já se comunicava com espíritos desencarnados, mas em algumas situações se sentia incomodado por alguns deles.
Nestas horas, Chico procurava rezar e pedir perdão. Assim conseguia reverter os maiores momentos de desconforto. A lição aprendida? Que a prece pode realmente ser um “santo” remédio. Essa história é uma das que ilustram a vida de um dos mais importantes médiuns brasileiros, contada em sua biografia, As Vidas de Chico Xavier, escrita por Marcel Souto Maior. No livro, dezenas de situações difíceis vividas por ele foram superadas com a ajuda da prece.
De acordo com o sociólogo e teólogo espírita Guilherme Knopak, que é também Professor na Faculdade Doutor Leocádio José Correia (FALEC), para o Espiritismo, a prece não deve ser exercida apenas como um pedido de ajuda em momentos difíceis. “Enquanto na maioria das vezes se pensa em prece como uma forma momentânea de inverter a lógica de funcionamento das coisas para atingir determinado fim, com a prece busca-se entender o mecanismo orgânico de funcionamento do Cosmos para se harmonizar com ele. Em outras palavras, a oração não deve ter a intenção de suspender temporariamente lei nenhuma, mas sim, de compreendê-la”, explica. Segundo ele, a prece deve servir para que, permanentemente, as pessoas possam refletir sobre o significado que têm atribuído à própria vida, ao Creador e às suas experiências. “O ideal é que as preces não sejam feitas, mas vividas, por meio de pensamentos, ações, palavras e sentimentos”.
Para o sociólogo, é fundamental que as intenções sejam sempre as melhores nos momentos da oração. “Os bons fluidos proporcionam um ambiente que facilita o acesso para atuação dos espíritos desencarnados. Eles não conseguem simplesmente agir mediante vontade própria. Necessitam de uma ponte de comunicação, que é construída pelos nossos pensamentos”. Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec explica que a prece “é uma invocação, mediante a qual o homem entra, pelo pensamento, em comunicação com o ser a quem se dirige. Pode ter por objeto um pedido, um agradecimento”.
O espírito Leocádio José Correia, em mensagem psicografada pelo médium Maury Rodrigues da Cruz, sugere que “a verdadeira prece busca respostas; nunca dádivas”. Vale lembrar, ainda, da importância do livre-arbítrio, de que o homem tem liberdade para tomar iniciativas, já que é um ser inteligente, dono de sua própria razão. Durante a prece, muitas vezes é importante pedir coragem, paciência, resignação, como orienta Kardec. Assim, com a prece a pessoa conseguirá, por seus próprios meios, superar suas dificuldades. Ou seja: a pessoa fará prece, solicitará auxílio, mas é ela quem vai conseguir deixar seus problemas para trás por meio do livre-arbítrio. Além disso, é importante salientar que a prece tem poder quando direcionada a outras pessoas.
Segundo Kardec, isso se dá pela transmissão do pensamento. “Muitas vezes, indivíduos que estão com problemas de ordem física, moral ou espiritual não conseguem manter pensamentos equilibrados, o que dificulta a ação dos espíritos quando autorizados a agir. Nesses casos, a prece por terceiros é válida, já que uma pessoa, pensando sinceramente na outra, pode abrir um campo onde a atuação do polissistema espiritual seja possível”, observa Knopak.
A professora universitária Maria Francisca Carneiro conhece bem o poder das orações. Ela iniciou a prática ainda na infância, mas foi na adolescência que compreendeu a força do pensamento. “A prece é uma forma de iluminação da consciência. Ela nos coloca em sintonia com Deus e com as frequências vibratórias superiores. Por meio da prece, encontramos paz e força para enfrentar os problemas da vida. A oração nos fortalece e nos dá sabedoria para tirar o melhor de cada desafio”, diz. Segundo ela, a prece pode ser católica, muçulmana, espírita, evangélica ou budista. Não importa a religião, contanto que seja espontânea, intimista e verdadeira. “O mais importante é a sinceridade e a força da intenção. O segredo é sentir-se num momento de meditação, relaxado, como se estabelecesse diálogo com Deus. Isso amplia o poder da oração e oferece o retorno esperado mais rápido do que imaginamos”, indica.
EFEITOS TERAPÊUTICOS
Não é de hoje que se sabe que fazer prece contribui com a sensação de bem-estar, oferecendo calma, tranquilidade e harmonia. Estudos que comprovam a coerência dessas impressões também já são frequentes em diversas partes do mundo. A partir dos anos 70, surgiram cada vez mais pesquisas que relacionam saúde com espiritualidade.
Uma das investigações científicas sobre os efeitos terapêuticos da oração foi feita em 1988, quando Randolph C. Byrd, cardiologista do San Francisco General Medical Care Center, na Califórnia (EUA), publicou o resultado de uma experiência em que dividiu 393 pacientes do setor de cardiologia de seu hospital em dois grupos.
Depois de operadas, parte das pessoas recebeu orações e a outra parte não. Byrd acompanhou 29 indicadores de saúde nos dois grupos e percebeu que, em seis deles, os pacientes que receberam as preces apresentavam melhores resultados. Pierluigi Zucchi, diretor do Instituto para a Terapia da Dor, da Universidade de Florença, na Itália, acredita que a oração e a meditação não apenas contribuem para a eficácia dos tratamentos com remédios, como também aumentam os limites de resistência à dor. Uma das experiências de Zucchi consistiu em promover sessões de leitura e meditação sobre trechos do Evangelho de São João a grupos de enfermos, desconhecendo as convicções religiosas de cada um. O estudo revelou que o limite de resistência à dor entre os que tinham fé era muito mais elevado.
Segundo ele, provavelmente, a prece e a meditação aumentam a produção de algumas substâncias analgésicas produzidas pelo nosso cérebro. Já o psiquiatra Harold Koening, diretor do Centro de Religião, Espiritualidade e Saúde da Universidade Duke, nos Estados Unidos, mapeou 700 pesquisas sobre o tema. Do total avaliado, cerca de 500 trabalhos indicavam ligações entre crença religiosa e bem-estar físico. Segundo ele, entrevistados que afirmaram crer em uma “força maior” apresentaram, em média, melhor função imunológica, níveis mais baixos de colesterol, boa qualidade de sono e menor pressão arterial em comparação aos que se declararam céticos. Segundo o psiquiatra, pessoas que exercem uma prática religiosa regular vivem, em média, sete anos mais que as outras.
FLUIDO UNIVERSAL
Kardec explica, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, que o mecanismo da prece se dá graças ao fluido universal, que ocupa todos os seres, encarnados ou desencarnados. A vontade da pessoa no momento da prece é a mola propulsora deste fluido, ou seja, é o “veículo do pensamento, como o ar o é do som. Dirigido, pois, o pensamento para um ser qualquer, na Terra ou no espaço, de encarnado para desencarnado, ou vice-versa, uma corrente fluídica se estabelece entre um e outro, transmitindo de um ao outro o pensamento, como o ar transmite o som”, afirma Kardec.
Edição 25 da revista SER Espírita
A cura das enfermidades do Espírito e a reforma da consciência
Xerxes Luna
I – A consciência e seus efeitos na saúde e na doença do ser humano
A consciência da criatura humana guarda em sua intimidade as leis de Deus necessárias à plena harmonia de sua vida de relações, bem como as energias e informações decorrentes das suas diversas formas de pensar e agir na atual e nas demais reencarnações vivenciadas.
Nossos pensamentos e atitudes são usinas geradoras de energias a se irradiarem para todos os nossos órgãos, interligando-os e perpassando-os, afetando-lhes, inclusive, as vibrações.
Os pensamentos e atitudes centralizados no amor são geradores de forças equivalentes àquelas relativas à natureza divina do Espírito, fazendo com que ele experimente um estado de conforto e equilíbrio vibratório conhecido usualmente como saúde. Entretanto, quando as energias geradas são de natureza oposta as do amor ocasionam as enfermidades.
Logo, essas enfermidades são decorrentes das agressões sofridas pelos corpos, na sua intimidade vibratória. Seus efeitos causam desconforto ao Espírito, principalmente no consciente e no inconsciente dando, por vezes, origem a doenças localizadas em regiões específicas do organismo físico.
Sabemos dos grandes desafios a que estão submetidas nossas emoções e atitudes na luta incessante pela preservação da vida, num mundo de expiações e provas. Somos constantemente levados, não só a conquistar e ampliar saberes, que favoreçam nossa sobrevivência e felicidade, como também a experimentar as mais variadas formas de emoção e satisfação, algumas delas com reflexos danosos ao nosso equilíbrio interior.
Portanto, o grande objetivo da criatura humana em sua busca pela saúde integral é eliminar esses focos de desequilíbrio e, consequentemente, evitar o surgimento de novos.
II – As enfermidades e a depuração do Espírito
É comum às criaturas buscarem a medicina acadêmica ou até mesmo os tratamentos alternativos para se libertarem das doenças físicas e psíquicas que afligem sua vida cotidiana, principalmente aquelas que afetam seu organismo físico. Nesse sentido, é importante salientar que as doenças do corpo e da mente têm suas raízes no estado vibratório em que se encontra a consciência do Espírito encarnado, por este motivo Jesus, ao curar as pessoas dos seus males físicos, as orientava a não voltarem a pecar.
As enfermidades, portanto, guardam estreita sintonia com o padrão de consciência em que se encontra o Espírito no seu estágio evolutivo, ainda receptivo aos pensamentos e comportamentos equivocados. À proporção que ele se depura, ao longo das reencarnações sucessivas, essas enfermidades vão paulatinamente diminuindo até serem totalmente extintas, quando o Espírito alcança a escala de Espírito puro.
Como essa depuração não ocorre de uma hora para outra, pois está associada às variadas experiências reencarnatórias a serem vivenciadas pelo Espírito, a Providência divina concede-nos recursos temporais, voltados para o êxito do nosso intento evolutivo, incluindo o combate às doenças do corpo físico. Para isso, Deus nos dá o conhecimento da Ciência Médica, convencionalmente, em suas diversas especialidades. Daí nosso respeito aos procedimentos médicos convencionais, fruto do estudo e da pesquisa nas diversas manifestações das doenças do corpo físico e da mente da criatura encarnada. As terapias alternativas, voltadas para a saúde do corpo físico e da mente humana, também devem ser respeitadas e consideradas. Sua aplicação deve guardar o devido respeito ao tratamento convencional da responsabilidade da Ciência Médica estudada nas academias de Medicina.
III – Procedimento de cura de enfermidades com intervenção dos Espíritos
O grande propósito do Espiritismo, no âmbito da restauração da saúde da criatura humana, centraliza-se, primordialmente, na extinção das raízes da enfermidade localizadas em seu organismo espiritual, o que não implica em desconsiderar a expectativa do necessitado de restabelecer sua saúde física.
Suas intervenções estão focadas em duas direções: na harmonização do padrão de consciência do enfermo e no socorro espiritual necessário à saúde do seu corpo físico e da sua mente.
A terapêutica, utilizada na harmonização do padrão de consciência do enfermo, consiste em edificar na sua mente a convicção de que, ao ampliar suas percepções acerca da verdadeira vida, diminuirá sua ignorância, seus medos e suas dúvidas e compreenderá, acima de tudo, que a saúde integral que ele busca depende do aprimoramento do seu padrão de pensamento e comportamento. Que a doença deve ser percebida como um meio para se conseguir a harmonização dos desalinhos vibratórios que perturbam o Espírito. Que seu desejo de saúde deve ir além da cura do corpo físico, já que este reflete, na carne e na mente, nada mais nada menos que os efeitos e sintomas de uma enfermidade mais grave localizada no seu Espírito, mais especificamente no seu perispírito (corpo modelador da sua organização física). Que pouca eficácia terá seu tratamento se ele não cuidar de extirpar a causa geradora do mal que o aflige. Para tal, deve concentrar-se, também, no cumprimento das recomendações voltadas à harmonização energética do seu corpo espiritual, pois é nele que se encontra fincada a semente da enfermidade. Ao contrário dos medicamentos prescritos para a doença do seu corpo físico, o medicamento restaurador dos desalinhos vibratórios do seu perispírito é de natureza fluí- dica. Esse quantum de energia, em forma de fluidos provenientes da esfera espiritual, quando devidamente assimilados pelos centros de força do paciente, tem efeito restaurador. Para isso, é preciso que o socorrido colabore com o tratamento, esforçando-se por melhorar o padrão vibratório do seu corpo espiritual pela vivência, pautada no respeito à natureza e aos valores e direitos humanos, efetivada na prática da generosidade, da fé, da fraternidade, da solidariedade, da paciência, da dignidade, da honestidade, da humildade, da justiça social, da preservação dos bens naturais e das contribuições concretas para a paz no mundo.
No que se refere ao socorro à enfermidade física, prioritariamente esse intento deve estar associado às orientações legais da prática da Medicina acadêmica.
Nesses casos, os Espíritos-médicos encarregados de assistirem os enfermos atuam, primeiramente, em parceria com os médicos encarnados que os estão tratando. Essa parceria se efetiva por meio da intuição e dos tratamentos subsidiários como o passe e a água fluidificada.
Quando o tratamento médico exige uma intervenção mais específica do âmbito da Medicina Espiritual, uma vez que a terapêutica exigida transcende os limites da Ciência Médica convencional (acadêmica), os Espíritos-médicos benfeitores recorrem a procedimentos não convencionais como cirurgias no perispírito, em que não há a necessidade de corte no corpo físico, à recomendação de medicamentos naturais, não alopáticos, manipulados com componentes e fórmulas prescritas pelo plano espiri- tual, além de outras terapêuticas que não agridem o bom senso, nem os ensinamentos e recomendações do Espiritismo. Essas intervenções, no entanto, não desobrigam o paciente de continuar com as recomendações prescritas pela Medicina acadêmica, tampouco devem servir de afronta ao conhecimento da Ciência Médica terrena, ainda menos se prestar a ganhos financeiros ou outros de qualquer espécie.
É importante salientar que as intervenções médicas espiri- tuais voltam-se, primordialmente, para a restauração dos danos existentes no perispírito. Seus reflexos no restabelecimento da saúde do corpo físico dependerão do tempo necessário para a harmonização do desalinho vibratório da parte perispiri- tual afetada, do planejamento reencarnatório do enfermo, dos imperativos da Lei de Causa e Efeito e do merecimento, pois “o amor cobre multidões de pecados” (1 Pedro, 4:8).
IV – O Centro Espírita e as curas espirituais
É inegável a importância do Centro Espírita no trabalho de consolação e socorro aos aflitos de qualquer natureza, mas também é inegável que o Centro Espírita tem compromissos inadiáveis com a prática e a difusão do autêntico Espiritismo, codificado por Allan Kardec.
No que se refere às curas espirituais sob sua responsabilidade é imperativo que os procedimentos ali aplicados sigam as recomendações advindas do plano espiritual superior, transmitidas pelos Espíritos benfeitores como Bezerra de Menezes, André Luiz, Joanna de Ângelis, Manoel Philomeno de Miranda, através da mediunidade segura de bons médiuns, a exemplo Divaldo Pereira Franco e os saudosos Francisco Cândido Xavier e Yvonne do Amaral Pereira, para citar alguns.
Deve a Casa Espírita estar atenta ao desenvolvimento dessa tarefa específica de aliviar dores e sofrimentos, pois, como todas as demais, sua repercussão, se negativa, não só abalará as bases de credibilidade da instituição na sociedade, como também servirá de pretexto para os opositores do Espiritismo se municiarem de elementos para desacreditá-lo.
Não nos esqueçamos de que o compromisso primeiro do Espiritismo é fornecer aos sofredores e enfermos meios para a cura das doenças que lhes afetam o equilíbrio e a saúde.
Revista O Reformador. Federação Espírita Brasileia. 2014
Grande homem e mestre
da caridade
Conhece-se um grande homem por seus bons atos, sentimentos e palavras.
Como vive em sociedade, o homem – ser humano – é testado continuamente pelos conhecimentos de ordem humana que possui e, como é um ser dotado da centelha divina, também é observado e avaliado com base nos preceitos pertinentes à eternidade.
Em ambos os sentidos, Adolfo Bezerra de Menezes foi um grande homem.
Com notável reputação, não tardou a ser aclamado e eleito deputado geral. A política é, como sabemos, um dos mais severos testes para a análise moral, pois assegura, de certa forma, autoridade, e quando esta não é compreendida e se transforma em poder cego e abusivo, pode contribuir para que se instaure o caos, como vemos atualmente em nosso País.
Bezerra de Menezes em nenhuma circunstância comprometeu seus elevados princípios em troca de favores ou interesses; sua hombridade foi sempre marcante e decisiva. Ele desejava sinceramente a felicidade e o amparo do próximo, o que acabou levando-o a abandonar a carreira pública, visto que seus ideais não acordavam com os da política em si. Sua aspiração era ser o auxílio ao irmão mais desvalido, a palavra bondosa para com o coração entristecido, o médico para o socorro do desenganado. Ele era, sobretudo, a personificação da bondade e realizava tudo com amor.
Ao conhecer o Espiritismo, seu coração se entregou inteiramente à causa espírita. Assimilou, com perfeição, todo o ensinamento espírita e sua dedicação a esse mister produziu maravilhosos frutos. Ainda assim, não lhe faltaram nas lides espíritas chateações e aborrecimentos; contudo, ante as inconveniências vividas, adotou sempre atitudes sábias, respeitosas e amorosas em todas as ocasiões. Para Bezerra de Menezes, o amor era a melhor resposta para o seu oposto.
Como se não bastassem as discordâncias naturais, existem aquelas que procrastinam o propósito entre os profitentes de um mesmo aparente ideal, de modo que, de par com um grande objetivo, muitas vezes existe o dissenso. Foi o que se deu com Bezerra de Menezes, que se deparou com um sério problema entre os espíritas: os que aceitavam o Espiritismo no aspecto religioso e os que somente o aceitavam pelo lado científico e filosófico. Ele, porém, utilizando-se sempre do bom senso amoroso, conquistava seus caminhos. É que o homem sábio cria meios de fazer valer a verdade sem desmerecer nem ridicularizar o próximo, porquanto compreende o outro como parte de seu universo, um companheiro da jornada da vida, e não apenas um oponente.
É curioso como há maneiras variadas de dissertar sobre um grande homem. Com Adolfo Bezerra de Menezes não é diferente, porque é ele um notável exemplo de incontáveis sequências benfazejas.
Como todos sabemos, ele enalteceu a verdade ensinada pelo Mestre Jesus e valeu-se do recurso da ciência para a cura do corpo, mas em nenhum momento se esqueceu da prática da caridade, sustentação amorosa para os Espíritos enfraquecidos.
Há exemplos de todas as qualidades e vibrações no cenário da vida. O livre-arbítrio será a escolha para a paz ou para a perturbação.
Exemplos abençoados não faltam para nos inspirar. Dr. Bezerra de Menezes é um deles.
No curso da história, porém, conhecemos imensurável número de fatos tristes e de completo sofrimento pela simples razão de não ter sido o amor o protagonista.
Referência:
Revista O Consolador - Edição 438 - 1º/11/2015
Na ausência do amor
Aquele que diz que está na luz, mas odeia o seu irmão, está nas trevas até agora. O que ama o seu irmão permanece na luz e nele não há ocasião de queda. Mas o que odeia o seu irmão está nas trevas; caminha nas trevas, e não sabe aonde vai, porque as trevas cegaram os seus olhos.1,João, 2:9-11. (Bíblia de Jerusalém)
Sob esse título, Emmanuel analisa que as diferentes manifestações da intransigência ou fanatismo refletem uma alma enferma, doente porque escolheu viver na ausência do amor.
Se não sabes cultivar a verdadeira fraternidade, será atacado fatalmente pelo pessimismo, tanto quanto a terra seca sofrerá o acúmulo do pó. Tudo incomoda quele que se recolhe à intransigência. Os companheiros que fogem às tarefas do amor são profundamente tristes pelo fel de intolerância com se alimentam.1
Como enfermidade do Espírito, a intransigência expressa severidade ou rigor perante os comportamentos e opiniões humanos. Em se tratando de ação política ou religiosa, a intransigência demonstra atitude odiosa, agressiva, a respeito daqueles de cuja opinião ou crença se diverge.
Estejamos, pois, atentos porque a intransigência não se instala abruptamente. Requer um período de incubação gradual, semelhante ao que acontece nas doenças infecciosas. Só que no caso da intransigência, a infecção ocorre na alma.
Procuremos guardar a devida vigilância com o intuito de aprender identificar sinais reveladores dessa terrível infecção espiritual, alguns dos quais são assim destacados por Emmanuel:
Convidados ao esforço de equipe, asseveram que os homens respiram em bancarrota moral. Trazidos ao culto da fé, supõem reconhecer, em toda parte, a maldade e a desilusão. Chamados à caridade, consideram nos irmãos de sofrimento inimigos prováveis, afastando-se irritadiços. Impelidos a essa ou àquela manifestação de contentamento, recuam desencantados, crendo surpreender a maldade e a lama nas menores exteriorizações de beleza festiva.1
O filósofo iluminista Voltaire já afirmava que a intransigência ou fanatismo “[…] é para a superstição o que o delírio é para a febre, o que a raiva é para a cólera. Aquele que tem êxtases, visões, que toma os sonhos como realidades, e suas imaginações como profecias, é um entusiasta; aquele que alimenta sua loucura com assassinato é um fanático.”2
A história humana está repleta de atentados cometidos contra a Lei de Deus porque pessoas fanáticas ou intransigentes, agindo como juízes severos e frios, não hesitaram em cometer crimes, condenando à morte ou à perseguição implacável irmãos em humanidade, simplesmente por que estes não pensam como eles. A civilização atual, contudo, indica que o ser humano evoluiu e que leis mais justas foram elaboradas, a fim de que a vida em sociedade possa estabelecer uma convivência mais pacífica.
A pessoa de bem sabe que a é preciso agir com muita prudência e espírito de benevolência perante à divergências encontradas no cenário social.
Excessos dogmáticos, lances de fanatismo, opiniões prepotentes, medidas de intolerância e injúrias teológicas podem ser considerados por enfermidades das instituições humanas, destinadas a desaparecer com a terapêutica silenciosa da evolução e do tempo, embora constituem para todos nós, os espíritas cristãos encarnados e desencarnados, constantes desafios a mais amplo serviço na sementeira da luz. 3
O maior desafio da humanidade atual é vivenciar o amor, trilhando os caminhos da luz, libertando-se das trevas, como esclarece o apóstolo João na citação inserida no início deste texto: “o que ama o seu irmão permanece na luz e nele não há ocasião de queda.” O Amor é, pois a solução, o remédio salutar, a vacina eficiente, que cura e produz imunidade às enfermidades espirituais.
Quem ama o próximo sabe, acima de tudo, compreender. E quem compreende sabe livrar os olhos e os ouvidos do venenoso visco do escândalo, a fim de ajudar, em vez de acusar ou desservir.
É necessário trazer o coração sob a luz da verdadeira fraternidade, para reconhecer que somos irmãos uns dos outros, filhos de um só Pai.4
Referências
- XAVIER, Francisco Cândido. Fonte viva. Pelo Espírito Emmanuel. 1 ed. 6 imp. Brasília: FEB, 2013. Cap. 158, p. 333.
- Dicionário filosófico. Tradução de Ciro Mioranza e Antonio Geraldo da Silva.São Paulo: editora Scala, 2008, p. 258.
- XAVIER, Francisco Cândido. Justiça divina. Pelo Espírito Emmanuel. 14 ed. 3 imp. Brasília: FEB, 2013. Cap. 76, p. 184.
- Fonte viva. Pelo Espírito Emmanuel. 1 ed. 6 imp. Brasília: FEB, 2013. Cap. 159, p. 335.
Aliança da Ciência e da Religião
Em termos históricos, a relação entre a Ciência e a Religião pode ser entendida como, no mínimo, complexa, considerando que tanto as inspirações religiosas impulsionam o desenvolvimento científico, como o conhecimento científico e tecnológico produzem efeitos significativos nas crenças religiosas. Justamente por se tratar de relacionamento complexo, a união entre a Ciência e a Religião é e foi marcada por conflitos cuja solução encaminha para uma coexistência pacífica, como bem esclarece o Espiritismo.
A Ciência e a Religião são duas alavancas da inteligência humana; uma revela as leis do mundo material e a outra as do mundo moral. Ambas, porém, tendo o mesmo princípio, que é Deus, não podem contradizer-se. Se fossem a negação uma da outra, uma necessariamente estaria em erro e a outra com a verdade, porque Deus não pode querer destruir a sua própria obra. A incompatibilidade que se julgou existir entre essas duas ordens de ideias provém apenas da observação defeituosa e de um excesso de exclusivismo, de um lado e de outro. Daí o conflito que deu origem à incredulidade e a intolerância.1
Relevantes contribuições de teólogos e cientistas da atualidade confluem para o consenso de que o ser humano foi criado para ter uma visão integral da vida. Entende-se hoje com mais clareza que a mente humana não foi concebida para perceber a realidade de forma dicotomizada, resultando daí que o homem aprende a lidar com temas antagônicos como Ciência e Religião que, por si sós, são provocadores de conflitos, uma vez que revelam domínios distintos da experiência humana. Percebe-se, porém, que tais conflitos são mais de forma do que de conteúdo, uma vez que indicam, na essência, desentendimentos relacionados à manifestação da autoridade religiosa ou científica, ambas fortemente impregnadas pelas normas, dogmas, rituais e preceitos, as quais lhes impõe barreiras para a vivência dos preceitos morais. Vencidas estas barreiras, a aliança entre a Ciência e a Religião se estabelece.
Neste sentido, Immanuel Kant (1724-1804) lembra que “somente a pura intenção moral do coração pode tornar agradável a Deus (Evangelho de Mateus, 5:20 a 48)”.2 Para este admirável filósofo alemão os conflitos entre religiosos e cientistas deixam de existir se ambos se dispuserem a seguir apenas dois deveres na vida:
- 1º) Adotar como regra universal de conduta o preceito considerado legislador de todos os deveres, “[…] que compreende em si a condição moral interior como condição moral exterior do homem, isto é, cumpre teu dever sem invocar outro motivo que seu valor imediato, ou seja, ama a Deus acima de tudo. […]”.2
- 2º) Utilizar como regra particular de vida a aplicação do dever universal de conduta, ora citado, “[…] nas relações externas com os outros homens: Ama teu próximo como a ti mesmo, ou seja, adianta seu bem com uma benevolência que, imediata, não deriva de motivos egoísticos. […]”.2
Com base nesses e em outros princípios, o perfil que se delineia no mundo atual é o de que a Religião está perdendo gradualmente a guerra contra a Ciência, e vice-versa, tornando-se viável a construção de pontes de entendimentos entre ambas. A proposta emergente da atualidade indica, até por uma questão de sobrevivência da humanidade, que religiosos e cientistas aprenderão a conviver em paz. Primeiro, porque os religiosos estarão, cada vez mais, livres dos dogmas estatutários. Segundo, porque os cientistas romperão as algemas que os mantêm cativos do primado da razão.
No campo religioso, a Religião responderá afirmativamente às seguintes indagações do famoso escritor francês, destacado filósofo iluminista, François Marie Arouet (1694-1778), mais conhecido como Voltaire:
Não seria aquela mais simples? Não seria aquela que ensinasse muita moral e poucos dogmas? Aquela que tendesse a tornar os homens mais justos sem torná-los absurdos? Aquela que não obrigasse a crer em coisas impossíveis, contraditórias, injuriosas à divindade e perniciosas ao gênero humano? […]. Aquela que só ensinasse a adoração de um Deus, a justiça, a tolerância e a humanidade? 3
No meio científico, a Ciência desenvolverá ações distanciadas do jugo reacionário e cartesiano do culto à razão, introduzido por outro francês de renome, o matemático e filósofo René Descartes (1596-1650). O maior equívoco de Descartes, afirma o professor Antonio R. Damasio, chefe do departamento de neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Iowa, USA, foi desenvolver premissas de que mente e corpo são entidades independentes, não relacionadas entre si:
Ainda que Descartes tenha se notabilizado ao propor um método de observação, análise e interpretação dos fatos científicos, condição muito útil para se chegar a conclusões racionais, o método cartesiano oferece graves empecilhos para conceituar Deus, sobretudo a perfectibilidade divina, assim como a riqueza da capacidade de aprender, discernir da mente humana. Nestas condições a educação moderna e as mais recentes conquistas das neurociências demonstram que o cogito (isto é o pensar), só por si, dificilmente poderia constituir um fundamento sólido para o conhecimento. Quer isto dizer que nem sempre o conhecimento e a explicação de certos fatos, por mais evidentes que sejam, se explicam exclusivamente pelo raciocínio. Há outras vias, como a percepção extrassensorial que, a rigor, extrapolam o raciocínio lógico. Nestes termos o cogito não é, pois, garantia suficiente de um conhecimento à prova de erro.
Algo digno de nota é que esse atual direcionamento da pesquisa científica, mesmo em áreas tão estritamente racionais, como a Física e a Matemática, foi admiravelmente percebido por Allan Kardec que, se de um lado, se valeu da metodologia racional para classificar, relacionar e compreender certos fatos espíritas, soube, porém, extrapolar o entendimento racional para discernir a respeito da magnitude das consequências morais que os princípios espíritas trazem em seu bojo: uma proposta renovadora e moralizadora da espécie humana. É por estes e outros motivos que o Espiritismo explica ser possível a aliança entre a Ciência e a Religião:
A Ciência e a religião não puderam entender-se até hoje porque cada uma, encarando as coisas do seu ponto de vista exclusivo, repeliam-se mutuamente. Era preciso alguma coisa para preencher o vazio que as separava, um traço de união que as aproximasse. Esse traço de união está no conhecimento das leis que regem o mundo espiritual e suas relações com o mundo corpóreo, leis tão imutáveis quanto as que regem o movimento dos astros e a existência dos seres. Uma vez constatadas pela experiência essas relações, fez-se uma nova luz: a fé dirigiu-se à razão, a razão nada encontrou de ilógico na fé, e o materialismo foi vencido. […].5
Estamos, pois, diante de um processo revolucionário, transformador das ideias que atingirá a humanidade de frente.
É toda uma revolução moral que neste momento se opera e trabalha os espíritos. Após uma elaboração que durou mais de dezoitos séculos, chega ela à sua plena realização e vai marcar uma Nova Era para a humanidade. As consequências dessa revolução são fáceis de prever; deve produzir inevitáveis modificações nas relações sociais, às quais ninguém terá força para se opor, porque estão nos desígnios de Deus e resultam da lei do progresso, que é a Lei de Deus.5
Referências
1 KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 2. mp. Brasília: FEB, 2013. cap. 1, it. 8, p. 40.
2 KANT, Immanuel. A religião nos limites da simples razão. Trad. Ciro Mioranza. 2. ed. São Paulo: Escala, 2008. cap. I, p. 183, 184 e 185, respectivamente.
3 VOLTAIRE. Dicionário filosófico. Trad. Ciro Mioranza e Antonio Geraldo Silva. São Paulo: Escala, 2008. Verbete: Religião, it. Quinta questão, p. 442.
4 DAMÁSIO, Antônio R. O erro de Descartes. Trad. Dora Vicente Georgina Segurado. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. pt. III, it. O Erro de Descartes, p. 279.
5 KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. de Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 2. imp. Brasília: FEB, 2013. cap. I, it. 8, p. 41.
Pilares de sustentação do trabalho voluntário na Casa Espírita
Considerações iniciais
O trabalho voluntário na Casa Espírita, além de contribuir para o fortalecimento das forças do bem na humanidade, é uma oportunidade ímpar, disponibilizada à criatura humana para que, de forma consciente e mais constante, se encontre com nosso Pai celestial. Daí a importância de o voluntário, ao abraçar sua tarefa, estar plenamente cônscio da relevância de sua participação, certo de que, em sua atuação, contará com a companhia e assistência do Pai celestial através de sua coorte de anjos.
Dessa forma o trabalhador voluntário da seara divina deve envidar todo seu esforço no sentido de honrar esses momentos, assentando sua força de trabalho em pilares que resistam às dificuldades naturais, existentes no terreno onde as sementes do Amor serão plantadas e regadas.
1º Pilar: Amor ao próximo, respeito humano
O trabalho voluntário na Casa Espírita exige contato permanente com criaturas humanas encarnadas e desencarnadas, situadas nas mais variadas faixas vibratórias de pensamento e comportamento, daí a necessidade de o voluntário ser portador de um aceitável grau de sensibilidade para que possa bem se relacionar com essas pessoas, a fim de não prejudicar os intentos divinos em favor delas. Ao lidar com criaturas humanas nunca esqueçamos que nem sempre estamos tratando com pessoas lógicas, mas sim, na maioria das vezes, com pessoas emocionais.
É imprescindível que, no desempenho de sua tarefa, o voluntário guarde estrita vigilância ante as investidas provenientes do plano espiritual inferior, pois as mesmas encontram terreno fértil, para sua semeadura, no lodaçal do orgulho, da vaidade, do melindre, da sede de poder, da ignorância e da fragilidade emocional e moral das pessoas, bem como em outras imperfeições próprias da natureza humana.
Assim, tratar bem aqueles com quem nos relacionamos, estimulando-os para o trabalho que desempenham e/ou incentivando- os a superar as dificuldades da jornada, são exemplos que, sempre que possível, devem ser vivenciados pelo trabalhador espírita. Ademais, não custa nada lembrar que, sempre que a oportunidade apareça devemos habitualmente cumprimentar as pessoas, com naturalidade, ser compreensivos, ser solícitos, atenciosos, enfim, educados com o semelhante. Esses “pequenos” gestos muito contribuem para o ajuste da nossa sintonia com o plano espiritual superior que nos assiste.
2º Pilar: Fidelidade aos princípios espíritas
Em função da natureza do trabalho realizado na Casa Espírita, é fundamental que seu trabalhador voluntário não só tenha conhecimento doutrinário, mas também o abrace e nele tenha fé. Afirmamos que o trabalho espírita é diferente dos demais, porque não leva em consideração somente as necessidades de ordem material da criatura humana, mas, principalmente as mais imediatas. O trabalho sob a égide do Espiritismo também leva em consideração a vida espiritual das pessoas e seu retorno à carne em vidas futuras. Para que essa consciência se firme, de forma mais efetiva na conduta do voluntário, é necessário que saiba o que é reencarnação, quais os princípios que a regem e que a compreenda à luz do Espiritismo; que tenha conhecimento e acredite na comunicabilidade dos Espíritos, em como essa comunicação se processa e que efeitos provoca na vida da criatura humana; que tenha fé em Deus, em sua bondade, misericórdia e justiça, para melhor entender as desventuras com que se deparará ao longo do seu trabalho e que acredite na imortalidade da alma, para citar alguns requisitos básicos necessários a que se guarde fidelidade aos princípios doutrinários espíritas.
A falta de conhecimento do que seja o Espiritismo, dos recursos de que dispõe e dos princípios em que se assenta, indubitavelmente levará o voluntário espírita a desenvolver seu esforço de trabalho em direção contrária à que se recomenda a Doutrina Espírita, gerando assim sérios conflitos de identidade na Instituição. Um exemplo funesto dessa ausência de fé e fidelidade às recomendações do autêntico Espiritismo é a realização de práticas estranhas ou exóticas na Casa Espírita.
3º Pilar: Convivência fraterna e companheirismo
Jesus com seu exemplo nos ensinou que o trabalho na seara divina não dispensa a participação de ninguém que esteja imbuído de boa vontade e sintonizado com os propósitos divinos. Para cumprir sua missão entre nós, Ele se fez acompanhar de discípulos das mais variadas condições sociais e culturais, com destaque para os doze apóstolos que lhe eram mais próximos. Poderia, certamente, cumpri-la sozinho, mas em sua sabedoria optou por partilhá-la com seus irmãos de caminhada e de ideal. Assim deve ser na Casa Espírita, pois todos os que nela se encontram são irmãos que abraçam a mesma fé, dispostos a seguir as recomendações de vida eterna, trazidas pelo Cristo, uns espiritualmente mais amadurecidos que outros, mas todos desejosos de crescimento espiritual.
Diante dessa heterogeneidade evolutiva, é natural que em alguns momentos ocorram desencontros de opinião e comportamento, todavia, nesses momentos devemos nos lembrar de que viemos para unir pessoas e não para separá-las. Que o companheiro de espírito mais amadurecido na prática do bem se apresente junto ao mais fragilizado, não para confrontá-lo, mas para, juntos, trabalharem em favor da causa do Cristo, uma vez que os discípulos de Jesus são conhecidos por muito se amarem. Que nosso proceder no desempenho de nossa tarefa seja o de partilha, de companheirismo e de compreensão para com as limitações humanas. Dar asas ao destempero emocional, ao “disse me disse”, à soberba, à arrogância, à exaltação da personalidade, por exemplo, só serve para obstaculizar a efetivação dos propósitos do Espiritismo na humanidade. Os tempos são chegados e esse tempo é o da solidariedade e da fraternidade. Nós, os trabalhadores da última hora, já perdemos muito tempo com os braços cruzados, portanto, temos muito trabalho pela frente.
4º Pilar: Amor ao trabalho
No exercício de sua tarefa, o trabalhador voluntário da Casa Espírita deve estar imbuído do sentimento de amor ao que faz e não do da obrigação ou da prestação de um favor a alguém, seja encarnado, seja desencarnado. Não esqueçamos que Jesus espera de cada um de nós misericórdia (compaixão) para com a dor e o sofrimento alheio e gestos conscientes de amor ao próximo e não sacrifícios ou mesmo obrigações forçadas de qualquer ordem.
A alegria de poder contribuir para a felicidade daqueles que a Providência divina coloca em nosso caminho deve ser a motivação que nos leve a realizar o trabalho voluntário, principalmente na Casa Espírita. Isso exige que eduquemos nossos sentimentos e reavaliemos nossa postura ética (como estamos nos relacionando com nossos semelhantes, principalmente os mais próximos?), moral (que valores tomamos como referência para nossa conduta cotidiana?) e comportamental (nosso comportamento na vida está coerente com o que acreditamos e professamos, como espíritas que somos?). Meditar sobre esses três pontos e esforçar-se, o mais que possível, para vivenciar atitudes coerentes com a proposta divina, referente a cada um deles, é tarefa urgente e inadiável, haja vista a necessidade de adquirirmos o equilíbrio exigido para o trabalho na lida espírita. Sem esse equilíbrio, como enfrentaremos as dificuldades e incompreensões que fatalmente surgirão no decorrer da tarefa? É fundamental que saibamos, adequadamente, nos desviar das pedras que surgirem no caminho, contornando-as ou removendo-as, uma vez que, se elas ali permanecerem, poderão ser motivo de tropeço e até mesmo de queda daqueles que com elas se depararem.
5º Pilar: Presença
O trabalho espírita, devido às bases em que se assenta e coerente com os fins a que se propõe, em hipótese alguma deve promover a infelicidade de seus agentes. Por isso, quem se dispuser a trabalhar na seara espírita deve planejar bem seu tempo de modo a não se prejudicar na condução de suas outras atividades, fora do Centro, e também para que a tarefa da qual participa no Movimento Espírita não venha a sofrer nenhum tipo de prejuízo. É imperativo que haja tranquilidade e satisfação por parte do trabalhador voluntário, principalmente no desempenho de sua tarefa, e isso só será possível se, dentre outros fatores, houver, no mínimo, um equilíbrio razoável do binômio: trabalho assumido versus tempo disponível à sua realização. Para que esse equilíbrio se estabeleça e o encargo seja satisfatoriamente realizado, se faz necessário administrar bem a ocupação do tempo disponibilizado, uma vez que esse tempo, competentemente distribuído, mesmo sendo pouco, pode gerar frutos mais proveitosos do que os produzidos por alguém muito ocupado com realizações desnecessárias e assumindo atitudes incompatíveis com os propósitos da tarefa e com as finalidades do Espiritismo. Nesse quesito, a assiduidade e a responsabilidade são duas condições que não podem faltar.
Conclusão
Aos que desejam participar do trabalho voluntário na Casa Espírita e aos que já estão nele integrados deixamos a seguinte mensagem de Francesco, il poverello de Assis:
Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente você estará fazendo o impossível.
Referência: Revista O Reformador, maio de 2015